Estado de São Paulo registra aumento de 4,9% na área de vegetação nativa
Texto original por: Carlos Fioravanti | Pesquisa FAPESP (23 Julho de 2020)
lhabela, Iporanga e Pedro de Toledo emergiram como os municípios paulistas com maior área de vegetação nativa, respectivamente com 94,1%, 90,9% e 90%, de acordo com a versão mais recente do Inventário florestal do estado de São Paulo, lançada nesta quinta-feira (23/7). Inversamente, São Caetano do Sul, Cruzália e Pedrinhas Paulista são os com menor cobertura vegetal, respectivamente com 1,6%, 3,7% e 3,9%.
A vegetação nativa continua concentrada na serra do Mar, cujo relevo dificulta a ocupação urbana e a agricultura, e é escassa a oeste do estado. Porém “a regeneração florestal já é maior que o desmatamento”, observa o físico Marco Aurélio Nalon, pesquisador do Instituto Florestal de São Paulo (IF) e coordenador do inventário, realizado pela empresa GeoAmbiente, de São José dos Campos, com financiamento da Câmara de Compensação Ambiental do estado.
A quarta versão do levantamento – a primeira saiu em 1990 – indicou que as diversas formas de Mata Atlântica e de Cerrado cobrem no máximo 15% da superfície de metade (54%) dos 645 municípios paulistas (ver gráfico abaixo).
“O ideal seria uma área verde mínima de 20% em cada município para que a vegetação pudesse prestar serviços ambientais, como regular a temperatura, a umidade e os estoques de água e proteger o espaço urbano contra inundações e deslizamentos de encostas”, comenta Nalon.
“O Inventário pode servir de base para as políticas ambientais de fiscalização, conservação e licenciamento ambientais e planejamento territorial, como o zoneamento ecológico-econômico”, diz o coordenador. “Desde o início do planejamento dessa versão do inventário, há dois anos, estou em contato com as equipes da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente para conhecer as demandas e fazer um mapa que pudesse atender às necessidades de todos.”
O inventário de 2000, com apoio do programa Biota-FAPESP, resultou em mapas de áreas prioritárias para conservação, restauração e aumento de conectividade entre os fragmentos de vegetação nativa, utilizados pelos órgãos do estado no licenciamento ambiental de empreendimentos que possam modificar áreas naturais do estado.
As áreas com vegetação nativa encontram-se dispersas em 385 mil fragmentos e ocupam 22,9% – ou 56,7 mil quilômetros quadrados – do estado, de acordo com o estudo atual. As conclusões do inventário deste ano se apoiam na análise de 625 imagens do território paulista feita de 2017 a 2019 por três satélites dos Estados Unidos – WorldView-1 e GeoEye e QuickBird –, com resolução espacial de 0,5 metro (m), 400 vezes maior que a da versão de 2010.
A partir de imagens com resolução de 10 m, o inventário de 10 anos atrás registrou uma cobertura vegetal de 17,5% no estado. Segundo Nalon, a comparação entre os dois levantamentos, depois dos ajustes de escala, indica um crescimento de 4,9% na área de vegetação nativa, sem incluir os novos trechos identificados. O aumento da escala adotado neste ano permitiu a inclusão de 185 mil fragmentos, com área mínima de mil metros quadrados, somando 395, 8 mil (ha).
A vegetação nativa está dividida em oito categorias. A Mata Atlântica abarca sete delas: três tipos de floresta ombrófila, a densa, a mista e a densa de terras baixas, cujas árvores não perdem as folhas durante o ano, como na serra do Mar; dois de floresta estacional, a semidecidual e a decidual, com árvores que perdem respectivamente poucas ou todas as folhas, como no oeste paulista; dois tipos de formações pioneiras, que são as matas de várzea, ao longo de rios, e os manguezais, no litoral; e refúgios ecológicos, que são os campos de altitude. A oitava categoria é o Cerrado, com suas três formas, o cerradão, com muitas árvores próximas, o cerrado, com árvores espalhadas, e os campos, com vegetação rasteira.
Predominante na faixa litorânea do estado, a floresta ombrófila densa é a que ocupa a maior área, 2,8 milhões de hectares, o equivalente a 11,4% da superfície do estado. A floresta estacional semidecidual é a mais fragmentada, com 187 mil áreas, que somam 7% do estado. O Cerrado, que sofreu o desmatamento mais intenso nas últimas décadas, cobre 239 mil hectares, ou 1% da área do estado. Os refúgios ecológicos são representados por 963 fragmentos, distribuídos em 15,9 mil ha, ou 0,1% da área do estado.
Outros estados
“Mapeamentos desse tipo são essenciais para todo estado que pretende fazer planejamento ambiental e atender às exigências do Código Florestal”, diz o geógrafo Marcos Rosa, coordenador técnico do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas), que acompanha o desmatamento e a regeneração florestal desde 1985. Segundo ele, outros estados, como Paraná, Espírito Santo e Rio de Janeiro, fizeram levantamentos semelhantes ao de São Paulo.
O mapeamento do uso da terra do MapBiomas registra no norte do Paraná uma transformação similar à do interior paulista, com a substituição de pastagem por agricultura, sem ocupar as Áreas de Proteção Permanente (APPs) de rios e nascentes, em processo de recuperação florestal. Do mesmo modo, áreas agrícolas do interior de Santa Catarina, abandonadas por causa da escassez de mão de obra, voltam a ser ocupadas por vegetação nativa, como ocorre em áreas montanhosas de baixa produtividade agrícola no Vale do Paraíba, em São Paulo.
“Não podemos esquecer, porém, que a floresta em recuperação é muito importante a longo prazo para aumentar a cobertura nativa, proteger os rios e conectar fragmentos isolados, mas não tem o mesmo valor do que já se perdeu com o desmatamento”, ressalta Rosa. “Uma floresta madura é rica em biodiversidade e presta serviços ambientais essenciais para manter a qualidade da água e do ar.”
Normalmente se desmata floresta antiga, rica em biodiversidade, e se recuperam florestas novas e pobres em espécies.” Uma floresta recém-formada, ele acrescenta, pode demorar cerca de 80 anos para recuperar a biodiversidade da mata original.
Rosa disse que pretende usar as informações do inventário florestal paulista para detalhar as análises do MapBiomas, fundamentadas em imagens do satélite LandSat, com resolução menor. “Com imagens em alta resolução utilizadas no inventário de São Paulo é mais fácil estimar se uma floresta está em estágio inicial, intermediário ou avançado de regeneração.”
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