Oceano Ártico está sendo poluído por minúsculas fibras de plástico das roupas

Oceano Ártico está sendo poluído por minúsculas fibras de plástico das roupas

Texto original por: Helen Regan | CNN (13 janeiro de 2021)

Minúsculos fios de microfibras, arrastados para o oceano por causa da lavagem de nossas roupas ou de águas residuais das indústrias, estão poluindo uma das regiões mais remotas da Terra.

Os microplásticos (que medem até 5 milímetros de diâmetro, ou aproximadamente o tamanho de uma semente de gergelim) já foram encontrados anteriormente no gelo marinho do Ártico. Agora, uma nova pesquisa descobriu que a poluição por microplástico é comum perto da superfície da água do mar em todas as regiões do Ártico, incluindo o Pólo Norte.

Publicado na terça-feira (12) na revista “Nature Communications”, um estudo mostrou que 92% daquelas partículas de microplástico são fibras sintéticas minúsculas, a maioria delas de poliéster.

Os pesquisadores afirmam que o tamanho, a forma e o tipo do material são consistentes com as fibras liberadas em roupas e tecidos durante processos de lavanderia e a produção têxtil.

“Os microplásticos alcançaram os confins remotos de cada canto do Oceano Ártico, da Noruega, ao Pólo Norte, às águas árticas do Canadá e dos EUA”, detalhou o doutor Peter S. Ross, principal autor do estudo e professor adjunto do departamento de ciências terrestres, oceânicas e atmosféricas da Universidade de British Columbia.

Apesar de ser uma região muito remota, o Ártico está intimamente ligado às “nossas casas, às nossas lavanderias e aos nossos hábitos de compra” no resto do mundo, acrescentou Ross.

Cerca de dois terços de nossas roupas consistem em materiais sintéticos, incluindo poliéster, nylon e acrílico.

As minúsculas fibras sintéticas podem entrar no abastecimento de água em águas residuais de fábricas ou de pessoas lavando suas roupas. Embora estações de tratamento de águas residuais sejam capazes de capturar a maior parte delas, o restante pode eventualmente fluir para rios, cursos de água e, finalmente, para o oceano.

Em quatro navios, equipes de cientistas coletaram amostras de água do mar, de profundidades de 3 a 8 metros abaixo da superfície, em 71 locais em uma vasta faixa da região ártica. A área se estendia da Noruega, passava do Pólo Norte até o Ártico canadense central, descendo pelo arquipélago e, então, a oeste até o Mar de Beaufort, abrangendo a fronteira EUA-Canadá.

Os especialistas calcularam que, em todo o Ártico, havia cerca de 40 partículas microplásticas por metro cúbico de água. As fibras sintéticas foram a fonte dominante de microplásticos, com 92,3%, sendo a maioria composta de poliéster.

As concentrações de microplásticos eram três vezes maiores no Ártico Oriental (acima da Europa Ocidental e do Oceano Atlântico Norte) do que no Ártico Ocidental (acima da costa oeste canadense e acima do Alasca). As fibras orientais também eram 50% mais longas em comparação com as ocidentais e também pareciam mais novas e frescas, sugerindo que a maioria das fibras encontradas no Oceano Ártico se originou do Atlântico.

Isso não é surpreendente, disseram os pesquisadores, dado que mais água flui do Atlântico para o Oceano Ártico do que do Pacífico.

O Ártico costuma ser caracterizado como o barômetro da saúde do planeta, e a região é considerada extremamente vulnerável, especialmente para a crise climática.

Existem preocupações sobre como essas fibras de poliéster podem afetar os seres humanos e a vida selvagem marinha, como pássaros, peixes e zooplâncton. Estudos já encontraram microplásticos nas vísceras dos peixes e da vida marinha, e há temores sobre o potencial de ingestão humana e possíveis efeitos para a saúde, especialmente para comunidades indígenas que dependem fortemente de frutos do mar.

Embora a ciência sobre os impactos dos microplásticos na saúde ainda seja incipiente, Ross disse que podemos estar “bastante confiantes de que o plástico não é bom para nenhuma criatura de qualquer tamanho ou forma ou ecologia alimentar, e que o plástico oferece nutrição zero”.

“O grande desafio para a comunidade científica é como caracterizar e documentar causa e efeito para uma família muito complexa de poluentes”, acrescentou.

A indústria têxtil global produz mais de 40 milhões de toneladas de tecidos sintéticos por ano, e a grande maioria deles são roupas de poliéster.

Ross disse que há um reconhecimento crescente entre muitas empresas de roupas de que elas não deveriam apenas ver sua pegada em termos de uso de água, tintas, produtos químicos e emissões, mas “também precisam abordar as preocupações com o derramamento de fibras pela lavanderia e a vida útil de seus produtos”.

“Isso deve enfatizar um vínculo íntimo com cada indivíduo na América do Norte, Ásia, Europa, no hemisfério norte e no extremo Norte, onde realmente não devemos esperar encontrar esse tipo de pegada”, disse Ross.

(Texto traduzido, leia o original em inglês).

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