Coordenadora do Limpa Brasil fala do problema gerado pelo lixo
Por Reinaldo Canto é jornalista ambiental ( especial Envolverde)
Um dos maiores problemas das sociedades modernas está no descarte dos resíduos. Segundo o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – a produção de lixo no mundo deve ter um aumento das atuais 1,3 bilhão de toneladas para 2,2 bilhões de toneladas por ano até 2025. O pior é que boa parte desse material acaba por ser despejado em lugares impróprios como rios, lagos e terrenos baldios trazendo consequências danosas para o meio ambiente e para a saúde das pessoas. Diante da gravidade do problema, a gestão dos resíduos, a reciclagem e o descarte correto de materiais se torna urgente e imprescindível.
Essa também é a opinião de Edilaine Muniz, coordenadora do Limpa Brasil que faz parte do movimento Let´s do It! World, um dos mais importantes movimentos mundiais dedicados à educação ambiental, cidadania e conscientização para a sustentabilidade.
Envolverde – Como o movimento surgiu e há quanto tempo ele está no Brasil?
EM – O movimento começou em 2008 na Estônia, quando 50.000 pessoas se juntaram para recolher e limpar o país que acumulava 10.000 toneladas de lixo que estavam depositadas em margens de estradas, florestas, ruas e avenidas. Com essa articulação, conseguiram realizar a limpeza de todo o país em apenas 5 horas!
Os resultados foram tão expressivos e impactantes que dali em diante o Let’s do it! se espalhou ao redor do mundo chegando ao Brasil em 2010.
E – Quais os principais objetivos do movimento?
EM – Principalmente, a conscientização dos impactos causados pelo consumo desenfreado e os descartes dele decorrentes. É por meio da atividade prática da coleta seletiva, destinação correta do lixo e dos materiais recicláveis que o Programa Limpa Brasil tem a missão de disseminar os grandes valores universais para bem viver na sociedade.
E- Quantas ações vocês já realizaram no país? Quais os resultados?
Entre 2011 e 2018, o Programa Limpa Brasil – Let’s do it! realizou ações em 20 cidades brasileiras alinhado com um ambicioso projeto de educação ambiental, inovação e gestão integrada de resíduos sólidos isso em parceria com diversas instituições locais e nacionais.
O programa já contou com a participação de mais de 368 mil voluntários e o recolhimento de 3.200 toneladas de material reciclado e que foram doadas às cooperativas de materiais recicláveis dessas localidades gerando trabalho e renda para milhares de famílias de catadores.
E – Por sua experiência à frente do projeto você consegue identificar os principais problemas relacionados aos resíduos no Brasil? E no mundo, são os mesmos?
São diversos problemas relacionados aos resíduos no Brasil, porém posso apontar a falta de implementação de políticas públicas e ações educativas para o sociedade. No mundo podemos dizer que o ponto forte em comum é a falta da real relevância do impacto do lixo no planeta. Como exemplos podemos apontar o descarte incorreto, o consumo desenfreado a falta de um olhar mais sustentável na cadeia de produção dos produtos para consumo.
E – Desde que o Limpa Brasil começou suas ações você acredita que o brasileiro passou a ter mais consciência sobre o descarte irregular do lixo?
Acreditamos que sim, porém ainda estamos longe de conseguir um avanço sobre o tema. Como compreende a Lei Nacional de Resíduos Sólidos a obrigação é de todos e suas responsabilidades precisam ser compartilhadas entre os setores público, privado, com a sociedade civil e também com o cidadão. Para avançar na conscientização sobre o descarte do lixo é preciso estabelecer políticas públicas que atendam às suas necessidades como, por exemplo, a de uma política destinada à logística reversa pelas empresas produtoras de embalagens. Sem essas definições até mesmo o cidadão se sente frustrado, pois mesmo que queira participar ativamente do processo de separação e reciclagem a ausência de regras o deixará sem opções viáveis de contribuição.
E – Como vocês trabalham a conscientização além do recolhimento do lixo? Falam também da reciclagem, por exemplo?
Sim, falamos da reciclagem, além de outros temas ligados à sustentabilidade. Atuamos dentro das escolas capacitando professores que se tornam multiplicadores, organizamos gincanas onde o ponto alto é observância de valores como responsabilidade individual, a inclusão social e a geração de trabalho e renda para as cooperativas de material reciclado. Na capital cearense, Fortaleza, implementamos a primeira escola PEV (Ponto Permanente de entrega Voluntária) em que todos os materiais coletados são destinados as cooperativas locais.
E – Quais as próximas ações e como elas serão?
A próxima ação será o lançamento do aplicativo de mapeamento de lixo no Brasil. O aplicativo já foi lançado em outros países que já o estão utilizando. Até o final de Abril, contaremos com a versão em português e, então, iniciaremos o mapeamento. Além de ações para engajar a sociedade brasileira a usar o app e mapear o lixo no Brasil, organizaremos ações mensais nas cidades de São Paulo, Recife e Salvador que serão usadas para inspirar outras pessoas para que façam o mesmo em outras cidades do país.
E – O dia 15 de setembro é uma data emblemática para o movimento. Por que?
Sem dúvida. Será a maior ação cívica que o mundo já viu! Uma incrível onda verde vibrando amor à natureza, começando no Japão e indo até o Havaí. Milhares de pessoas unidas pelo mesmo objetivo e compromisso: limpar suas cidades!
E – O que irá acontecer no Clean Up Day?
No Brasil, estimularemos as pessoas para que limpem suas ruas, calçadas, praças e que vivenciem o descarte correto, o cuidado e a preservação do meio ambiente e do espaço público.
Organizaremos ainda pontos estratégicos de limpeza nas cidades para que voluntários compartilhem essa pratica.
Aos interessados em fazer parte dessa grande ação de cidadania em prol do bem comum, acessem: www.limpabrasil.org (#Envolverde)
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