A vila japonesa Kamikatsu quer atingir totalmente o desperdício zero em 2020
Texto por: | Publico.pt (6 de Janeiro de 2020).
Em 2018, só 19% dos resíduos da vila de Kamikatsu foram parar ao incinerador. A ideia é a de sempre: separar, reduzir e reutilizar. Em 2020, quer atingir totalmente o desperdício zero, 45 categorias de reciclagem de cada vez.
No Japão, há uma vila onde o lixo é separado em 45 categorias: restos de comida, metal, papel, plástico, garrafas de plástico, mobília, máquinas. O papel, por exemplo, é subdividido em jornal, cartão, cartolina, cartolina com alumínio, tubos de cartão, copos de papel e por aí em diante. Parece difícil?
À separação meticulosa, acresce o fato de serem os próprios residentes a fazerem a divisão e, mais ainda, a levarem os resíduos para uma estação criada pelo município. O resultado: uma vila praticamente “desperdício zero” — que pretende sê-lo totalmente já em 2020.
Falamos de Kamikatsu, na ilha Shikoku, onde residem menos de 1700 pessoas. E foi há mais de 20 anos que começaram a jornada com vista ao desperdício zero. Atualmente, mais de 80% dos resíduos da vila escapam ao incinerador, mas a transformação não foi rápida, nem fácil.
Foi em 2000 que a vila teve que deixar de utilizar um dos dois incineradores, uma vez que as emissões produzidas no local eram superiores às permitidas. Apenas um incinerador não era suficiente para todo o lixo produzido, o que deixou duas opções aos residentes: enviar o lixo para outras cidades, o que era caro para uma economia tão pequena como a de Kamikatsu; ou acabar com o máximo de resíduos possível. Optaram pela segunda.
Nascia assim a Zero Waste Academy, criada por Akira Sakano, que propunha a separação do lixo em diversas categorias e, sempre que possível, a sua redução, reutilização ou reciclagem. O que iria além dos três ou quatro ecopontos a que estamos habituados.
No total, foram criadas 45 categorias: “Ao fazermos este tipo de segregação, conseguimos ‘passar a bola’ à pessoa que está a reciclar, que vai tratar os resíduos como produtos de alta qualidade”, explica Sakano, citada num texto do Fórum Económico Mundial. A criadora da Zero Waste Academy refere que não foi fácil convencer a população — precisamente porque era esperado que os residentes lavassem os resíduos em casa e os levassem para o ponto de recolha.
“Foi uma mudança abrupta no estilo de vida das pessoas”, explica. “Muitas pessoas estavam contra o novo sistema e perguntavam por que é que tinham de ser elas a levar o lixo. Acreditavam que o município não estava a fazer o trabalho que lhe competia.” Para dissipar dúvidas, o município organizou uma série de reuniões entre a comunidade, para dialogar e explicar o sistema.
“Continuou a haver algum conflito, mas grande parte da comunidade começou a entender o contexto e a cooperar, por isso o município pôs o plano em ação.” Assim que os residentes começaram a participar, perceberam que “não era assim tão difícil”. E rapidamente começaram a aderir em peso. “Agora, temos pessoas que separam o lixo em casa em dez categorias, e fazem a separação final na estação”, conta. No final de 2018, apenas 19% do lixo teve que ser enviado para o incinerador.
Além das vantagens a nível ambiental, o projeto acabou por significar uma melhoria na vida social dos habitantes de Kamikatsu. Num país onde a população é envelhecida e isolada, a estação de recolha acabou por se tornar num ponto de encontro da comunidade.
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