Como funciona a compostagem humana e por que ela ajuda o meio ambiente

Como funciona a compostagem humana e por que ela ajuda o meio ambiente

Por Redação Galileu | 03/01/2023

Método recém-legalizado no estado de Nova York consiste em processar restos humanos não embalsamados e transformá-los em solo utilizável para plantio.

A governadora de Nova York, Kathy Hochul, assinou neste sábado (31) uma legislação para legalizar a compostagem humana, tornando o estado norte-americano o sexto a permitir esse método de enterro nos Estados Unidos. A informação é da agência de notícias Associated Press (AP).

Segundo a AP, Washington foi o primeiro estado norte-americano a legalizar a compostagem de restos humanos em 2019, seguido por Colorado e Oregon em 2021 e Vermont e Califórnia em 2022. O objetivo da prática é aumentar os espaços para cemitérios e gerar menos danos ambientais, em comparação aos enterros tradicionais e cremações.

O que é Redução Orgânica Natural

A compostagem humana, também conhecida como Redução Orgânica Natural (NOR, Natural Organic Reduction), é um método no qual restos não embalsamados são processados ​​e transformados em solo.

A Recompose, uma empresa com sede em Seattle, tornou-se a primeira casa funerária de compostagem humana com serviço completo nos Estados Unidos no início de 2021. A companhia coloca cada corpo em um “berço” junto com lascas de madeira, alfafa e palha.

Ilustração do ciclo da compostagem humana — Foto: Recompose

Segundo o site da companhia, o “berço” é colocado em um recipiente maior e coberto com mais material vegetal. Micróbios que ocorrem naturalmente no material e em nossos corpos alimentam a transformação dos restos humanos em solo. Em 30 dias, a decomposição natural é finalizada.

O solo é, então, removido do recipiente, testado para itens não orgânicos, como implantes de quadril, e testado quanto à segurança. Por fim, é deixado secar por mais duas a quatro semanas.

Cada corpo cria um metro cúbico de solo, sendo que o processo começa com três metros cúbicos de material vegetal. Uma vez que a terra está completa após seis a oito semanas, as famílias podem levá-la para casa para usar em árvores e plantas ou doá-la para esforços de conservação.

Importância ecológica

De acordo com a Recompose, a compostagem humana é uma opção mais ecológica porque o processo não usa gás fóssil como a cremação, não requer o caixão nem os recursos do cemitério, e ainda sequestra o carbono à medida que o solo é criado.

Berço onde fica a pessoa morta antes do processo de compostagem humana — Foto: Recompose

Enterros tradicionais, por outro lado, tendem a ocupar espaço que poderia ser usado para vegetação, muitas vezes envolvendo materiais como aço, cobre e outros metais em caixões que não se biodegradam com o tempo.

Anna Swenson, gerente de divulgação da Recompose, explica ao site Popular Science, que a técnica usa somente 1/8 da energia necessária para enterros ou cremações convencionais. “Não usamos combustíveis fósseis e gás da mesma forma que os crematórios usam”, destaca. “A única eletricidade envolvida é alimentar o computador que monitora as embarcações funerárias”.

A Recompose informa que, para avaliar os benefícios do método, o especialista Troy Hottle desenvolveu um modelo científico que compara o enterro convencional, a cremação, o enterro verde e compostagem humana.

Ele concluiu que funcionam muito melhor na redução de carbono o enterro verde e a compostagem dos restos humanos, sendo que entre 0,84 e 1,4 toneladas métricas de dióxido de carbono serão economizadas cada vez que alguém escolher esta última.

Já Walt Patrick, administrador sênior da Herland Forest , organização sem fins lucrativos que também realiza enterros verdes e compostagem humana, explicou que a compostagem é bom para o solo e a vegetação. “A floresta precisa dos elementos que estão no corpo – magnésio, cálcio, fósforo e todas essas coisas no corpo são desesperadamente necessárias para o solo”, afirma.

Cerimônia de colocação

A Recompose oferece a oportunidade de homenagear os entes queridos que morreram durante uma cerimônia pessoal ou virtual em um espaço projetado para um máximo de 15 convidados. O corpo da pessoa fica à vista deitado em uma cama verde escura (o chamado “berço”) e envolta em um pano natural.

Recipiente onde os restos humanos são depositados para a compostagem — Foto: Recompose

“O berço ficará estacionado em frente ao nosso vaso de limiar hexagonal branco, que é uma passagem para o nosso sistema de vasos. Um especialista do Recompose Services irá guiá-lo durante a cerimônia do início ao fim”, orienta a empresa.

Os familiares e amigos do morto podem acendar uma vela, levar flores, tocar música, fazer respiração guiada e contar com a presença de um líder religioso ou um orador especial. A empresa realiza ainda, caso optem os participantes, uma cerimônia espacial inspirada no ciclo do carbono, escrita pelo gerente de serviços da companhia, Morgan Yarborough.

Alternativa para todos?

O solo criado pela compostagem humana é um material valioso que pode ser usado para nutrir quintais, jardins floridos, árvores, plantas domésticas e ambientes naturais. Seu pH de 6,6 é ideal para a maioria das plantas.

Contudo, o processo pode não ser adequado para pessoas que mantém tradições religiosas específicas e indivíduos com doenças como tuberculose ou que passaram por tratamentos de radiação um mês antes de morrer, de acordo com Swenson.

Urna contendo a terra resultante da compostagem humana — Foto: Recompose

Segundo a porta-voz, isso é feito principalmente para garantir que o solo resultante não tenha patógenos nocivos. Este é sempre testado após a conclusão da decomposição.

“Para algumas [pessoas], parece bom passar pelo processo de produção orgânica natural. E para alguns, isso não é bom – respeitamos quaisquer escolhas que as pessoas fazem e entendemos completamente que não trabalhamos para todos”, ela diz.

A Recompose está atualmente aberta no estado de Washington e planeja abrir no Colorado em 2023, seguindo para a Califórnia em 2027.

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